ITCP-UFPR promove 1º Encontro da Rede de Apoio às Mulheres Egressas do Sistema Prisional de Curitiba e região para fortalecer articulação por políticas públicas

Visando construir caminhos coletivos para a reinserção social de mulheres que passaram pelo sistema prisional, a Rede de Apoio às Mulheres Egressas do Sistema Prisional realizou, no dia 8 de Maio, seu 1º Encontro em Curitiba. O evento, organizado pelo Projeto Mulheres Empreendedoras e Líderes (MEL), vinculado à Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/UFPR), e em parceria com o Observatório Social de Saúde Prisional e Justiça Criminal do Estado do Paraná, reuniu representantes do poder público, da sociedade civil, do sistema prisional, da universidade e das próprias egressas, em um espaço de diálogo e articulação por políticas públicas mais efetivas.

A coordenadora da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/UFPR), Maria Rita Michalski, abriu o encontro destacando o significado simbólico e político daquele momento. “Este evento representa o cumprimento de um compromisso que firmei muitos anos atrás. Todas essas articulações, todo esse trabalho, foram para chegar até aqui, reunir todos vocês para darmos início à construção de um Projeto de Lei que formalize essa Rede”, afirmou. Maria Rita ainda celebrou o apoio das vereadoras Giorgia Prates (Mandata Preta), Camila Gonda, Professora Angela e Vanda de Assis, para as quais foi entregue a Carta de Intenções da Rede. “Ficamos muito felizes com o respeito e consideração que elas tiveram pelo nosso convite. Esse apoio político será fundamental”, completou.

Caminhos e desafios da reinserção social

O encontro também abriu espaço para que gestores das unidades prisionais femininas do Paraná compartilhassem suas vivências, desafios e perspectivas sobre a gestão prisional. Entre os participantes estavam Alessandra Prado, diretora da Penitenciária Feminina do Paraná (PFP) e presidente da Política Estadual de Atenção às Mulheres Privadas de Liberdade e Egressas; Rodrigo Fávaro, chefe da Reintegração Social da PPPR; e Marilu Kátia da Costa, diretora do Centro de Integração Social (CIS-DEPPEN).

Marilu Kátia da Costa destacou o contraste entre os avanços alcançados no CIS e as barreiras enfrentadas pelas mulheres após deixarem a instituição. “Elas saem muito bem inseridas no centro, com projetos, formação, apoio do Estado e da Secretaria de Segurança Pública. Mas, ao sair, enfrentam enormes pedras no caminho. Um exemplo: a distância de cinco quilômetros que precisam percorrer até o ponto de ônibus mais próximo, sem infraestrutura adequada e sem muito amparo”, alertou. Seu relato evidencia as lacunas das políticas públicas no processo de reinserção social, reforçando a necessidade de um suporte contínuo para além dos muros da prisão.

A gestora também enfatizou a importância das articulações intersetoriais para garantir que os avanços conquistados dentro das unidades prisionais não se percam na vida em liberdade. “A reinserção não pode depender só da boa vontade. Precisa de estrutura, de rede e de políticas continuadas”, reforçou.

Espaços para a economia popular e o acompanhamento social

Durante o evento, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP-UFPR) compartilhou uma importante conquista: a destinação, pela Prefeitura de Curitiba, de um prédio na região central da cidade — próximo à Praça Tiradentes — para sediar um futuro centro de economia popular solidária. A iniciativa reforça o papel da ITCP na articulação de políticas públicas voltadas à inclusão produtiva de mulheres egressas do sistema prisional. O professor Luís Felipe Ferro, vice-coordenador da ITCP, destacou durante o evento o potencial desse espaço e a importância da ocupação institucional com ações que promovam autonomia e reintegração social.

Já o professor de Psicologia da UFPR e coordenador do Observatório Social de Saúde Prisional e Justiça Criminal do Estado do Paraná, Márcio Cesar Ferraciolli, ressaltou o papel de encontros como esse para a construção de conhecimento coletivo e ações efetivas. “É nesses momentos que conseguimos reunir as diferentes vozes, experiências e saberes para pensar soluções integradas. O Observatório está à disposição para acompanhar, monitorar e subsidiar com dados e análises as ações da Rede”, afirmou.

Carta de Intenções e próximos passos

O evento também abriu espaço para pronunciamentos de representantes renomados, como o desembargador Ruy Muggiati, representando o Tribunal de Justiça do Paraná, além de integrantes da Defensoria Pública, do Departamento de Polícia Penal (DEPPEN), da Universidade Federal do Paraná e da Superintendência de Economia e Inovação de Curitiba. As falas reafirmaram o compromisso institucional com a causa e destacaram iniciativas para fortalecer o apoio às mulheres egressas do sistema prisional.

Entre os presentes, destacou-se a vice-reitora da UFPR, Camila Fachin, que enfatizou o papel da universidade na promoção da cidadania, na qualificação profissional e no suporte às egressas. “Esse também é um compromisso da nossa gestão”, afirmou. Ela compartilhou sua trajetória na medicina e reforçou a responsabilidade da universidade pública na construção de políticas e ações voltadas à inclusão e justiça social.

O encontro foi concluído com a leitura da Carta de Intenções da Rede de Apoio às Mulheres Egressas do Sistema Prisional, realizada por Maria Rita Michalski. O documento formaliza os compromissos coletivamente assumidos e estabelece diretrizes para sua inclusão em um Projeto de Lei em tramitação na Câmara de Vereadores de Curitiba. A iniciativa busca garantir um olhar mais atento às necessidades específicas das mulheres e promover a institucionalização da Rede como política pública estruturada de apoio às egressas do sistema prisional no Paraná.

Após o encerramento, os participantes se reuniram para um coffee break, celebrando os avanços conquistados e reforçando os laços para enfrentar os próximos desafios.